Quem sou eu?

Sou filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo mucama favorita e a criada fiel da esposa do comendador a qual considerava-me filha de sua alma.
Hão de pensar que sou maltratada, escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto, diz minha senhora Malvina, que passo, na fazenda, uma vida de fazer inveja a muita gente livre. Desfruto da estima de meus senhores. Deram-me educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que ela conhece. Diz ela que sou formosa e tenho uma cor linda, que ninguém suspeitaria que gira em minhas veias uma só gota de sangue africano. Porém, acredito eu que todo esse luxo de nada me serve. Apesar de todos esses dotes e vantagens, que me atribuem, sei conhecer o meu lugar. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.
Já que tive a desgraça de nascer cativa, não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme, como a mais vil das negras, do que ter recebido do céu estes dotes, que só servem para amargurar-me a existência?
Na sala, os brancos me perseguem e armam mil intrigas e enredos para me atormentarem. Aqui, onde entre minhas parceiras, que parecem me querer bem, esperava ficar mais tranquila, há uma, que por inveja, ou seja lá pelo que for, olha-me de revés e só trata de me ridicularizar.

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